A Era de Ouro: uma análise psicanalítica

Berserk é uma série de mangá escrita e ilustrada por Kentaro Miura, tendo sua primeira publicação em 1989. Situado em um mundo de fantasia inspirado em elementos da Europa Medieval, Berserk acompanha a jornada de Guts, um ex-mercenário, agora um espadachim amaldiçoado que é forçado a vagar, sobreviver e buscar sua vingança. A história aborda diversos temas, possuindo uma profunda construção narrativa que nos permite visualizar diversos temas filosóficos e existenciais, além de outros conceitos. Dito isso, o intuito deste trabalho é analisar algumas passagens da “narrativa histórica” de Berserk sob um olhar psicanalítico, na qual podemos observar a presença de algumas teorias de Sigmund Freud.


A história acompanha a vida de Guts, um bebê adotado por mercenários após ser encontrado embaixo de uma árvore sob o cadáver de uma mulher enforcada, representando nas crenças da Idade Média o símbolo do mau agouro. Sendo criado pela sua mãe adotiva e treinado como mercenário por Gambino, líder do bando mercenário e seu pai adotivo, Guts passa por uma infância incomum, experienciando os campos de batalha desde cedo, vivendo à mercê da morte e sob os seus instintos básicos de sobrevivência, realidade esta que é representada por um mundo cruel e repleto de violência. Neste ponto da narrativa podemos perceber a relação que Guts desenvolve com sua espada, a utilizando não somente como proteção, mas também como companheira e fornecedora dos cuidados maternos/paternos, já que sua mãe adotiva morreu quando ele ainda era só um garoto, fomentando assim a crença no mau presságio. Em vista disso, podemos determinar que a espada se torna o objeto transicional na infância de Guts, de modo que ela supre as necessidades de ser amparado, da mesma forma que serve como ponte para a manifestação de suas angústias, sentimentos e frustrações. Através da espada de Guts, podemos perceber que ele manifesta raiva, dor, ódio, tristeza e medo, e sua ausência o faz sentir-se inseguro no mundo em que vive. No entanto, a criança não só refere-se ao objeto como um meio de assumir uma ternura simbiótica, mas também o expõe a ataques e a tentativas de destruição, de forma que o objeto funciona como ponte simbólica sobre o abismo vivenciado que separa a realidade interna da externa (CASTILHO, 2012).

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Por ser considerado amaldiçoado, Guts é olhado diferente por outros membros do bando e até mesmo por seu próprio pai adotivo, Gambino, o qual depois da morte de sua companheira e da perda de uma de suas pernas, não podendo mais ser um guerreiro, passa a descontar todas as suas frustrações e culpas em Guts, projetando-as nele. A projeção, segundo Laplanche & Pontalis (1988), é um dos mecanismos de defesa elaborados por Freud que tratam de impulsos desprazerosos que são expelidos pelo indivíduo para evitar que o próprio indivíduo entre em contato com tais impulsos, de modo que são desconhecidos pela pessoa que os projeta. Neste caso, em específico, seriam a culpa e a raiva que pertencem a Gambino, mas são vistas por ele em Guts.

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A partir do instante que Guts descobre que Gambino o odeia e que todas as ações dele visavam mais prejudicá-lo do que favorecê-lo, seus instintos de sobrevivência sobressaem-se e Guts mata Gambino em favor de sua vida. Guts, em uma extrema situação de autodefesa, assassina não somente seu agressor, mas também aquele que tinha como pai, quebrando simbolicamente sua ilusão de admiração em um momento de fúria e desilusão.

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Após sua fuga do bando por ter matado seu líder, passamos a acompanhar um Guts já mais maduro, trabalhando como mercenário de aluguel, atuando em diversos conflitos por dinheiro, movido apenas pela sua vontade de sobreviver, até conhecer Griffith, líder do Bando do Falcão. Este personagem, que no decorrer da história se tornará o antagonista principal da trama, ali se apresenta para Guts como alguém não só a ser admirado, mas também a ser seguido, sobretudo pelos seus feitos, seu carisma, suas ambições e sua forma de ver o mundo, forma esta que Guts desconhecia até então. Depois de um tempo, Guts passa a enxergar o Bando como sua família, mas com alguma relutância, pois ao mesmo tempo que tem esse sentimento afetivo, tem também a sensação de não pertencer verdadeiramente ao Bando, mas a Griffith.

Apesar desse duplo sentimento de pertencimento ora ao Bando ora a Griffith, Guts segue no Bando cumprindo as ordens de Griffith. Com o passar do tempo e com a convivência, Guts constrói uma relação muito forte com Griffith, tornando-se muito próximo dele e, por efeito disso, construindo uma relação sólida com ele, embora ambos possuam características bastante distintas, de modo a simbolizar a dualidade da pulsão de vida e de morte. Guts vive rodeado pela vontade de viver (ainda que poupado de seus desejos), buscando apenas viver um dia de cada vez (ainda que limitado pelos atos, decisões e funções dele dentro do Bando do Falcão). Mesmo em face de tudo isso, Guts continua nutrindo em seu âmago uma chama criadora própria, uma vontade originária de existir por si mesmo.


Em contrapartida, Griffith vive em busca de realizar o seu desejo absoluto, um desejo que se conjura em forma de sonho, o sonho de possuir seu reinado e ter o controle de todos a sua volta, de modo que o Bando seria um meio para atingir esse fim. Isto seria denotado como o simbolismo da pulsão de morte ao longo da saga, configurando-se como o agente causador de diversos aspectos destrutivos que fragmenta a vida e a realidade de modo a serem reconstruídas. Além desses, Griffith se utiliza de outros artifícios para alcançar seu sonho, tais como controle, manipulação e até mesmo sacrifício. Por exemplo, Griffith se vale de artimanhas para poder conquistar influência junto ao rei, aproveitando-se da inveja presente na corte, e recorre a uma tentativa de assassinato, tendo Guts como seu assassino de confiança para eliminar seus inimigos dentro da realeza e abrir seu caminho até o rei e o trono.

Para a psicanálise, Griffith viveria do princípio de prazer (regido pelo Id), no qual inexistem inibições, censuras e conceitos de certo ou errado, que consiste na busca pela satisfação imediata de todas as necessidades, desejos e impulsos. Assim, compreende-se que o princípio freudiano de prazer direciona toda a ação psíquica e orgânica com a finalidade de alcançar um prazer idealizado, desconsiderando ou esquivando-se de quaisquer tipos de frustrações (LEITE, 2015 ; ZIMERMAN, 1999).

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Nesse ínterim, Guts começa a repensar seu lugar no mundo a partir da ideia de conquistar algo próprio sem estar à mercê dos desejos de Griffith, pois acredita que tem de fazê-lo sozinho. Por isso Guts decide sair do Bando. Griffith não aceita e nem respeita a decisão dele, já que o considera sua propriedade. O efeito dessa oposição é um duelo entre ambos. Com a vitória de Guts, Griffith vê-se desamparado e frustrado por não ter Guts ao seu lado, sob sua vontade. Assim, Guts passaria a viver conforme o princípio da realidade (regido pelo ego, apesar de ter que se submeter às vontades e aos desejos do id ), que funciona como uma lei reguladora porque modifica o princípio do prazer relativamente aos meios percorridos para satisfazer uma necessidade ou uma privação relacionada à luta pela sobrevivência, levando em consideração alguns elementos antagônicos determinantes, referentes à realidade externa e social, tais como: o eu e o outro; o individual e o coletivo (LAPLANCHE e PONTALI, 1988; PETER, 2012).

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Após a saída de Guts do Bando, Griffith fica um tanto transtornado e imprudente, quase fora de si e nada cauteloso, tanto que se arrisca ao ponto de adentrar secretamente o palácio real para “dormir” com a princesa Charlotte. A relação sexual entre os dois é vista por uma serva e denunciada ao rei, que manda prender Griffith imediatamente em uma obscura prisão, onde é impiedosamente torturado por um carrasco sinistro. O Bando do Falcão, acusado de traição à coroa, foi posto na clandestinidade e cassado implacavelmente por forças mercenárias do rei. Enquanto essa tragédia se sucedia, Guts encontrava-se distante do reino de Midland, buscando um propósito; vivendo pela espada. Depois de algum tempo, Enquanto viajava pelas proximidades do reino, encontra por acaso o Bando, onde toma conhecimento da desgraça que se abatera sobre seus antigos camaradas de armas. Por efeito disso, Guts se junta aos remanescentes do Bando do Falcão sob a liderança de Caska para resgatar Griffith.

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Ao encontrar Griffith em uma situação de extrema decrepitude física, com o corpo mutilado e esfolado, todo o Bando entra em estado de choque. Guts sente-se culpado pela terrível situação de Griffith, pois pensa que poderia ter evitado aquilo caso não tivesse abandonado o Bando. Ao encarar Griffith naquele penoso estado e lembrar-se do homem formidável que fora, Guts decide que irá protegê-lo da fúria assassina do rei de Midland. Em seguida a isso ocorre uma intrigante reviravolta na trama, fruto de um fatídico contratempo, que conduz Guts, Caska e o Bando a uma situação sobrenatural assustadora, pois, ao desesperar-se frente a sua impotência existencial perante o mundo e o Bando do Falcão, Griffith foge de tudo e de todos e nesse ínterim reencontra seu estranho amuleto escarlate (behelit vermelho), que é animado ao entrar em contato com o sangue de Griffith e atrai toda uma atmosfera fantasmagórica e sinistra, transportando Griffith e o Bando para uma dimensão eclipsada e diabólica. Este estranhíssimo evento sobrenatural é o ápice do primeiro arco da trama, A Era de Ouro.

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Ao tétrico Eclipse se juntam criaturas monstruosas e espectrais. Defronte a Griffith e ao Bando surgem dezenas de formas humanoides sinistras (os denominados Apóstolos), bradando histericamente por seus senhores-deuses; o chão, o horizonte e o céu tomam a forma de uma infinidade de rostos humanos atormentados a girar em torno de uma estrutura com formato de uma mão gigante sob um sol negro.

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Quatro Entidades, que se autodenominam Mão de Deus, surgem desse caos. Uma dessas entidades (Void) informa que todos estão reunidos ali pela causalidade do destino para testemunharem o nascimento do Quinto Membro da Mão de Deus. É dito por Void que Griffith fora o Escolhido para renascer como o “quinto dedo” da Mão de Deus através do sangue sacrificado dos seus leais e amáveis amigos. Assim, Griffith deveria aceitar “sacrificar aquilo que mais ama”: o Bando do Falcão.

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Neste momento da trama nos deparamos com a escolha de Griffith. Ubik, uma das Quatro Entidades, de modo a persuadir Griffith a tomar a decisão de aceitar sacrificar seus camaradas de Bando, induz uma visão na mente de Griffith de maneira a lhe relembrar sua verdadeira natureza, trazendo-lhe a tona uma visão de seu inconsciente e de suas incontáveis experiências, vontades e desejos ocultos, regredindo-o a um estágio anterior, de quando ele era uma criança pobre e idealizava o sonho de ter seu próprio castelo. Para Sigmund Freud, a regressão acontece se o objetivo final da função do desejo, a obtenção do prazer, encontra obstáculos para sua satisfação (realização), ou seja, a frustração que ocorre quando do contato do indivíduo com a realidade que se lhe apresenta.

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Se houver muitas fixações intensas, a função do desejo é enfraquecida e apresenta maiores dificuldades de resistência aos empecilhos externos e de prosseguir em direção ao seu destino final, com maior possibilidade de provocar a regressão ao inconsciente (FREUD, 1916-17/1996; GALVAN, 2012). Assim, devido a fixação ao seu sonho, Griffith vislumbra seus mais profundos desejos, mas para obtê-los teria de abdicar do mundo, de sua humanidade, dos seus laços fraternos com o Bando do Falcão, e, sobretudo, abdicar de Guts (seus obstáculos externos para se tornar algo absoluto). Ao proclamar a fórmula “eu sacrifico”, faz com que todos do Bando, inclusive Guts, sejam estigmatizados, marcando-os como oferendas ao banquete antropofágico dos monstruosos Apóstolos, os compelindo a devorá-los para fechar o ciclo do renascimento de Griffith como o Quinto Membro da Mão de Deus, (Femto), um ente divino movido apenas pelo seu desejo e isento das normas sociais e morais, como também portador de um poder quase absoluto. Simbolicamente, o Sacrifício representa a redenção de Griffith dos seus aparelhos psíquicos para que possa atender aos desejos de seu Id sem ser compelido a outros mecanismos, pois ao livrar-se de sua “humanidade”, Griffith libera a si mesmo do seu Ego (mediador das vontades do Id) e do seu Superego (impedidor dos desejos do Id, portador dos valores, regras, normas sociais e morais introjetados no indivíduo).

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Todos do Bando são terrivelmente assassinados e devorados pelos monstruosos Apóstolos da Mão de Deus, exceto Guts e Caska. Após a carnificina sacrificial, todo o sangue sacrificado é sugado pela mão gigante para gestar o novo corpo de Griffith, que renasce como Femto (Asas da Escuridão). Griffith, renascido como Femto, movido apenas por seus desejos mais profundos, estupra Caska em frente a Guts, que incapacitado de reagir por ação dos Apóstolos, apenas assiste irascível ao estupro de Caska. É importante ressaltar que este “estupro demoníaco” resultou em um dos maiores traumas de Caska durante toda a saga pós-Eclipse. Logo após o hediondo estupro, aconteceu algo surpreendente que salvaria Guts e Caska daquele macabro massacre: misteriosamente, um Cavaleiro-caveira cavalgando um cavalo esquelético penetra na Dimensão demoníaca e resgata Guts e Caska. Aqui se encerra o evento-chave da saga. As consequências das ações de Griffith permeiam a trama de Berserk e a história de vida do protagonista, pois Guts passa a viver, a partir daí, apenas motivado pelo desejo de vingança contra Griffith, lutando e sobrevivendo a diversos eventos pós-eclípticos apenas pelo propósito de encontrá-lo e matá-lo (nesse ínterim, Griffith não mais se encontrava no mundo humano, ao menos por ora).

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Caska – Dos Aspectos do Trauma à Interpretação dos Sonhos.

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Essa análise se dará a partir dos eventos do Eclipse sob a perspectiva de Caska. Após sobreviver juntamente com Guts aos acontecimentos do eclipse, Caska se encontra em um estado diferente do de antes, demonstrando comportamentos infantilizados, falta de memória e de fala, apresentando uma aparente fuga da realidade, claramente não sabendo discernir os acontecimentos da história, vendo sob uma outra perspectiva situações de perigo. Após ser abusada por Griffith durante o Eclipse, podemos configurar uma situação traumática vivida por Caska, que inconscientemente ativou mecanismos para proteger seu aparato psíquico diante de um evento extremamente forte, levando a ruptura do eu dela. Para contextualizarmos, primeiro precisamos entender a concepção freudiana acerca da mente humana, que a define como sendo formada por um aparelho psíquico dividido em consciente, pré-consciente e inconsciente, sendo este último responsável por armazenar todas as nossas experiências e símbolos que temos durante nossas vidas. Além de servir como um repositório que interage com outras instâncias psíquicas, nele ficam e residem experiências que vivenciamos, mas que, por algum motivo, insistimos em reprimir. Dito isso, Freud postulou a estrutura mental do homem, dividindo-a em componentes que atuam de diferentes maneiras, definindo-os como Id, Ego e Superego.

O Id é definido como a parte mais primitiva da mente, parte da personalidade composta por energia psíquica que trabalha para satisfazer impulsos, necessidades e desejos sem preocupações éticas e morais, sendo mais evidenciado na infância (sendo seus desejos atendidos imediatamente). Já na idade adulta, o Id é influenciado pelo Ego e pelo Superego. O Ego é responsável por mediar e equilibrar as vontades do Id e do Superego de maneira racional, tendo partes conscientes e inconscientes que se conflitam para que uma decisão seja tomada. No Ego também se encontram os mecanismos de defesa que tem a função de livrar-se inconscientemente de situações que possam provocar dor ou angústia psíquica. Por fim, o Superego se encarrega de impedir as ações do Id baseando-se em regras, normas, valores e moralidades para atuar no Ego de modo que censure o Id, podendo assim ocasionar sentimento de culpa.

A partir do conhecimento do aparelho psíquico podemos entender o efeito na mente de Caska. Segundo Freud, o trauma é resultante de excitações excessivas no aparelho psíquico, motivado por acontecimento muito violento, movido por emoções fortes, onde o aparelho não consegue gerir maneiras de impedir a excitação psíquica. Um meio de garantir a defesa do aparelho psíquico e o recalcamento desta energia seria a psicose. Na psicose, o Ego rejeita a representação do acontecimento (como se essa representação nunca tivesse existido) pelo seu desligamento da realidade, sendo considerada uma defesa perigosa, mas bem-sucedida (FREUD, 1996; LAPLANCHE & PONTALIS, 1994).

Assim, o vislumbre dos terríveis eventos do Eclipse (assassinato, carnificina e caos) desencadearam respostas de proteção da mente de Caska, regredindo-a à um estado aquém da realidade. No entanto, isso não significa que suas experiências foram perdidas, mas permanecem em um lugar profundo de sua mente, vindo à tona em seus sonhos de maneira simbólica, como representado em um dos arcos da história (Elfhelm – A Passagem dos Sonhos). Durante esse arco, novas personagens tentam recuperar a consciência de Caska, visitando seus sonhos, na tentativa de trazer sua consciência à tona. Para Freud, os sonhos são acontecimentos psíquicos que satisfazem os desejos inconscientes e também guardam as causas dos traumas que geram comportamentos problemáticos, ocultos no inconsciente das pessoas onde estão guardados os desejos reprimidos (FREUD, 1915). Desta forma, Freud definiu como conteúdo manifesto a experiência consciente ao longo do sonho, referindo-se aquilo que o sonhante se lembra. Já o conteúdo latente adéqua-se às ideias, desejos, sentimentos, emoções contidas que poderiam cessar o sono se surgissem claramente (REIS, 2009). O conteúdo latente pode ser formado por três elementos, sendo eles as impressões sensoriais, os pensamentos, as ideias, as atividades do cotidiano e, por último, os impulsos do Id. Já o manifesto se torna o resultado da união desses três componentes, resultando na experiência onírica (REIS, 2009; SILVA & SANCHES, 2011).

A elaboração onírica é definida como o processo que transforma os pensamentos latentes em conteúdos manifesto e consciente, colocando-os sob uma distorção que os torna inacessíveis ao sonhador. Essa distorção de conteúdo é feita com o intuito de não permitir algo reprimido à consciência, sendo exercida na fronteira entre a estrutura inconsciente e pré-consciente, condensando-o, simbolizando-o e deslocando-o de seu sentido original (FREUD, 1969; ROZA, 1991). Além disso, nos sonhos acontecem outros processos definidos como condensação, deslocamento e simbolismo. A condensação apresenta vários elementos, temas, imagens etc, que se unem em um só, de forma que torne o sonho mais denso, representando várias cadeias associativas e se tornando uma tradução resumida dos conteúdos latentes (GARZIA-ROZA, 2008; LAPLANCHE & PONTALIS, 2001). Já o deslocamento atua com a intenção de deslocar a intensidade dos elementos presente nos sonhos, reduzindo-os a um baixo valor psíquico, valores que entrariam para o conteúdo dos sonhos. E por fim, o simbolismo, onde acontece a modificação dos pensamentos oníricos, propiciando ao sonho uma série de metáforas e dando certa poeticidade ao conteúdo manifesto (FREUD, 1969).

Os processos observados na interpretação dos sonhos de Sigmund Freud podem ser observados na elaboração do processo do sonho de Caska, assim como o conceito de dramatização em que os fragmentos de sonhos simbolizados, condensados e deslocados da racionalidade são transformados em cenas, formando contextos para esses componentes, transformando-se em elementos distintos dos vividos como observado nas imagens a seguir:

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DISTORCIDO

DESLOCAMENTO

SIMBOLISMO




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REFERÊNCIAS

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ARAÚJO, M. D. G. (2010). Considerações sobre o narcisismo. Estudos de Psicanálise, (34), 79-82.
CASTILHO, P. T. (2012). Algumas considerações sobre o objeto na psicanálise de Winnicott e Lacan: do objeto transicional ao objeto pequeno. Estudos de Psicanálise. Belo Horizonte, (37), 127-141.
DANTA, G. C. S. (2020). O Aparelho Psíquico. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/psicologia/o-aparelho-psiquico.htm. Acesso em 18 de maio de 2020.
FREUD, S. (1996). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 12. Rio de Janeiro: Imago.
___________. Conferência XXII: Algumas idéias sobre desenvolvimento e regressão – etiologia. In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 16. Rio de Janeiro: Imago.
___________. As neuropsicoses de defesa. In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 3, pp. 51-74. Rio de Janeiro: Imago.
___________. (1969). A interpretação dos sonhos. In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 5. Rio de Janeiro: Imago.
___________. (2006). Conferências introdutórias sobre psicanálise. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro.
GAY, P. (1923). Freud: uma vida para o nosso tempo. São Paulo: Companhia das Letras.
GALVÁN, G. (2012). O conceito de regressão em Freud e Winnicott: Algumas diferenças e suas implicações na compreensão do adoecimento psíquico. São Paulo: Winnicott e-prints, 2(7), 38-51.
ZIMERMAN, D. E. (1999). Fundamentos psicanalíticos: teoria e clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed.
LAPLANCHE, J; PONTALIS, J. B. (1988). Vocabulário de psicanálise. 10º ed. São Paulo: Martins Fontes.
_____________. (1967). Vocabulaire de psychanalyse. Paris: PUF, 1994.
REIS, C. M. Princípios Fundamentais para a Interpretação dos Sonhos. Faculdades Integradas Brasil Amazônia. Disponível em: http://www.fibrapara.edu.br/seer/ojs/index.php/anais/article/24. Acesso em 18 de maio de 2020.
SILVA, E. A; SANCHEZ, J. A. R. (2011). Os sonhos como manifestação de desejos inconscientes. Disponível em: https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/os-sonhos-como-manifestacao-de-desejos-inconscientes. Acesso em 13 de fevereiro de 2011. Acesso em 18 de maio de 2020.

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Autor: Jociel Willians Ribeiro Bento

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Revisado e editado por Jorge Abrantes

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Texto original em: https://drive.google.com/file/d/1lvqBdaGcDTGmiZTnaG17c2CXWAWMJ5C2/view?fbclid=IwAR0aSwX6araJ4_bYMc3-fVSCARV50Q_LNYHf2gFqNOXO9aq0OgjOjfOhOl8

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13 Comments

  • Adorei o texto, mas só um adendo: pouco antes do tópico sobre a Caska tem um “Guts e Sasuke” escrito, creio que deveria ser Caska no lugar do Uchiha.

  • Parabéns pelo artigo. Sendo eu um estudante de psicologia e grande fã da obra, esse artigo me foi um prato cheio. Muito boas as fontes psicanalíticas, realmente a obra apresenta esses aspectos.

    • É ótimo ter um comentário de alguém da área da Psicologia 😉

      Grato pelo retorno!

  • Ótimo texto, bem instrutivo. É muito legal quando nós analisamos uma obra por uma visão psicológica, principalmente quando essa obra é Berserk. Obrigado 🙂

    • Saudações, caro mercenário Sanches!

      Esta publicação é deveras muitíssimo interessante, pois usa elementos da teoria da psicanálise freudiana para abordar alguns modelos e traços de personalidade da obra.

      De toda forma, os apontamentos e considerações levantadas aqui fazem muito sentido e são um excelente paralelo com a obra.

      Grato pelo comentário e pelo apoio.

  • Texto incrível! Como um grande fá de Berserk e psicanalista, digo que o autor foi muito feliz em correlacionar a obra com a teoria! Espero poder ver mais materiais assim por aqui.

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